Posted on 13 agosto, 2019 by Mauro Fisberg
Muita gente no país tem a ideia de que a anemia é uma doença associada a preguiça, a falta de vontade, ao amarelão. Provavelmente por uma memória antiga do personagem Jeca Tatu, de Monteiro Lobato. A imagem de um caipira com uma barriga cheia de vermes, cansado e apático é de alguma forma verdadeira.
A anemia carencial, especialmente a causada por falta de ingestão de ferro, é uma das doenças mais importantes em todo o mundo, com milhões de pessoas afetadas por esta deficiência. A ingestão de alimentos ricos em ferro, como as carnes, especialmente as vermelhas, mas também todas as brancas, vegetais ricos em ferro como os grãos, podem ajudar a prevenir a anemia. Mas exatamente por estar associado a alimentos de custo relativamente alto e não de uso universal, a doença compromete pessoas em todo o mundo, e muito mais nos países em desenvolvimento ou mesmo alguns bolsões de pobreza nos países ricos.
A anemia, no entanto, é também hoje frequente em classes sociais mais altas, em algumas situações bem específicas. O vegetarianismo sem orientação adequada, o hábito de não comer carnes por motivos religiosos ou por filosofia, acabam gerando casos em adolescentes e adultos jovens que tem esta prática. Crianças menores de cinco anos, adolescentes- especialmente do sexo feminino (perdas menstruais maiores), atletas e população mais idosa, são os de maior risco de apresentar a doença.
Os sintomas mais comuns da anemia já estabelecida são o cansaço, palidez, mucosas mais claras, falta de ar e fadiga. A anemia, pode ser avaliada por um simples exame de sangue, em que dosamos a hemoglobina circulante e o hematócrito, além de avaliar as medidas das células vermelhas do sangue, que tendem a ser menores e com menor coloração. Mas do ponto de vista de saúde, antes mesmo de aparecer a anemia, já nos estágios mais precoces da deficiência de ferro, já estão comprometidas inúmeras funções decorrentes do ferro escasso. Este mineral que é muito frequente na natureza, participa de um sem número de processos do nosso organismo. A deficiência de ferro leva a alterações no crescimento, na defesa contra infecções e no desenvolvimento. A falta de ferro pode afetar aspectos importantes do nosso sistema nervoso, alterando a memória, inteligência, capacidade de resolver problemas (cognição), atenção e deixando o paciente mais propenso a acidentes que demandam mais concentração. Portanto maior risco de acidentes comuns e de trabalho repetitivo.
Estudos em diferentes partes do mundo, e no Brasil, mostram que crianças menores de 3 anos de idade, mesmo tratadas com ferro, podem apresentar consequências de longo prazo, nunca alcançando totalmente o potencial daquelas que não apresentaram anemia ou deficiência de ferro. Assim, mesmo muitos anos após o término da anemia, adolescentes seguidos por muitos anos depois, ainda apresentavam maior risco social, com maior envolvimento com acidentes, castigos, dificuldades para conseguir empregos e outros.
Por este motivo, a Sociedade Brasileira de Pediatria- SBP, considera que a anemia é uma urgência. Precisa ser diagnosticada rapidamente e deveria ser sempre prevenida de forma eficaz. Algumas coisas relativamente simples podem ser feitas. Um maior incentivo ao aleitamento materno exclusivo e posteriormente prolongado, ajuda a prevenir a doença, já que o aleitamento natural tem ferro de excelente absorção e disponibilidade.
Quando nao ha possibilidade de aleitamento natural ou na vigência de formulas lácteas, o ferro destes produtos garante a prevenção da deficiência. A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda a utilização de suplementos de ferro de boa disponibilidade para a crianca a partir do terceiro mês de idade.
No entanto, e no período da introdução dos novos alimentos que podemos contribuir de forma decisiva, com a entrada de alimentos ricos em ferro, como as carnes. O ferro de fonte animal, o chamado ferro heminico, tem boa absorção e permite ótimo aproveitamento do mineral. Se utilizamos vegetais, como existe a possibilidade de que estes contenham elementos que dificultam a absorção do ferro, o truque e introduzir alimentos que ajudem na absorção do ferro destes vegetais. Assim, a combinação feijão com vitamina C ( acido citrico), presente nas frutas cítricas ( laranja, limão, mexerica e outras), e essencial para garantir o sucesso da ingestão de ferro e sua utilização adequada.
Durante os primeiros anos de vida, os suplementos de ferro sao importantes para garantir o aporte correto e prevenir a anemia. Outras fases importantes para o uso de suplemento sao a adolescencia, mulheres em idade fértil e gestantes, as que estão amamentando e nos mais velhos.
Um programa adequado de informação, prevenção e tratamento precoce da anemia ferropriva ( por deficiência de ferro), com o uso de todas as ferramentas disponíveis ( prevenção pré-natal, aleitamento materno prolongado, uso de fórmulas lácteas com ferro, alimentos adequados, suplementos de boa qualidade), pode salvar vidas, prevenir alterações no desenvolvimento intelectual e garantir menor numero de acidentes de trabalho economizando uma enorme soma de recursos econômicos e de saúde.
Fonte: Alimente el Futuro
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